Há mais ou menos uns 3 anos eu entrevistei o médico Silvano Raia, criador da técnica do transplante de fígado entre pacientes vivos e provavelmente a maior autoridade mundial nesse órgão. O primeiro transplante nessas condições foi feito em 1988 (com doador cadáver, em 1985).
“O fígado, pela sua consistência peculiar, não permite hemostasia por pontos de aproximação. Ao apertar os nós, o cirurgião rasga o tecido e aumenta a hemorragia. Em consequência, quando os pacientes eram operados para a remoção, por exemplo, de um câncer de intestino, estômago ou vesícula e era encontrada uma pequena metástase no fígado, o paciente era considerado inoperável. A abordagem cirúrgica do fígado representava um tabu, que meus ímpetos de juventude decidiram superar. Como outros, dediquei-me a estudar o fígado, que é um órgão complexo pelas inúmeras funções que exerce: sintetiza substâncias e excreta outras, é responsável pela formação dos fatores da coagulação e pelo clareamento de substâncias capazes de determinar alterações do funcionamento cerebral (coma hepático) (...) Em 1988, associamos nossa experiência adquirida em cerca de uma centena de ressecções de parte do fígado por tumores, abscessos, etc. com a experiência do transplante em adultos e realizamos, pela primeira vez no mundo, um transplante de fígado com doador vivo. Geralmente a mãe ou outro parente próximo é o doador, ressecando-se 30% do seu fígado que é transplantado na criança. Esse procedimento é particularmente gratificante uma vez que o fígado remanescente do doador se regenera. Em poucas semanas ele é capaz de readquirir sua massa e peso normais. Por outro lado, o fragmento transplantado cresce no receptor até as medidas normais para seu peso e idade”, me contou o médico na época.
Infelizmente, para câncer me parece que não há a possibilidade de transplante do fígado. Outro conceito importante: nos casos em que se constata o abdômen distendido, o paciente já se encontra em fase terminal devido à falência do órgão. Nesse quadro, a situação é gravíssima e de rápido desfecho.
Desconhecemos as condições exatas do Robin, e torcemos para que não se confirmem as informações veiculadas pela imprensa. Mas, uma coisa é certa: diante da repercussão internacional e do sofrimento que essas notícias trazem a milhares de pessoas, se o quadro não fosse semelhante ao que se tem publicado, a reação óbvia da família seria desmentir as notícias. Todos aqueles que se envolveram com Robin e sua obra vivem agora uma agonia e a falta da informação oficial só aumenta o drama e o pessimismo.
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